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Sinergismo

Etimologia da Palavra "Sinergismo"

    A palavra sinergismo vem do grego synergos (συνεργός), que significa "trabalhador em conjunto" ou "cooperador". A raiz do termo synergos é formada pela combinação de syn (com, juntos) e ergon (trabalho, ação), o que implica uma ação conjunta ou colaborativa. No contexto teológico, o sinergismo se refere à cooperação entre a graça divina e a vontade humana na realização da salvação.

Conceito Abrangente de Sinergismo

    Sinergismo é a doutrina que ensina que a salvação do ser humano resulta da colaboração entre a graça divina e a vontade humana. Ou seja, segundo essa visão, Deus concede Sua graça (o poder divino) para salvar o indivíduo, mas a pessoa também tem um papel ativo, pois deve escolher aceitar essa graça.

    Essa ideia contrasta com o monergismo, que sustenta que a salvação é completamente obra de Deus, sem qualquer contribuição da parte humana.

    O sinergismo enfatiza que, embora Deus seja o agente principal da salvação, o ser humano tem liberdade para responder à graça divina. Isso significa que, para muitos que aderem ao sinergismo, a salvação não é apenas um ato unicamente divino, mas sim uma interação entre a iniciativa divina e a aceitação ou cooperação humana.

Sinergismo no Contexto Cristão

    O sinergismo é comum em muitas tradições cristãs, particularmente nas Igrejas Católica Romana e Ortodoxa, bem como em algumas denominações protestantes, como a Arminiana. Essas tradições ensinam que, embora a graça de Deus seja essencial para a salvação, os seres humanos devem cooperar com essa graça e fazer escolhas que levem à salvação.

Pontos-chave do Sinergismo:

  1. A Graça de Deus: O sinergismo reconhece que a salvação é iniciada e possibilitada por Deus, por meio da Sua graça. A graça de Deus, de acordo com essa visão, capacita o indivíduo a responder ao chamado divino.

  2. A Vontade Humana: Ao contrário da visão do monergismo (que afirma que Deus age unilateralmente na salvação), o sinergismo ensina que a vontade humana também tem papel ativo. A pessoa deve aceitar a graça de Deus, muitas vezes através da fé ou de atos de arrependimento e conversão.

  3. Cooperação na Salvação: O ser humano não é passivo na sua salvação, mas coopera com Deus. Esse entendimento é muitas vezes associado à ideia de que a pessoa pode escolher responder positivamente ou negativamente à graça divina.

  4. Resistência e Livre Arbítrio: O sinergismo, especialmente na tradição arminiana, defende que os seres humanos possuem livre arbítrio para resistir à graça de Deus ou para aceitá-la, em contraste com visões que afirmam que Deus predestina irresistivelmente aqueles que serão salvos.

Sinergismo no Cristanismo e suas Implicações

    Embora o sinergismo seja encontrado em várias tradições cristãs, sua interpretação pode variar. Nas Igrejas Católicas e Ortodoxas, por exemplo, o sinergismo é parte da doutrina da salvação, que envolve a colaboração contínua entre a graça de Deus e as boas obras do cristão. A fé e as obras são vistas como cooperativas e necessárias para a salvação, sendo a graça de Deus fundamental para possibilitar qualquer boa ação ou escolha moral.

    Na tradição Arminiana do protestantismo, o sinergismo é especialmente enfatizado, destacando a responsabilidade humana em aceitar ou rejeitar a graça de Deus. Os arminianos acreditam que a graça de Deus é oferecida a todos os indivíduos, mas somente aqueles que aceitam essa graça pela fé experimentarão a salvação.

    Por outro lado, as tradições reformadas (como o calvinismo) se opõem ao sinergismo, adotando uma visão chamada monergismo, que afirma que a salvação é exclusivamente obra de Deus, sem qualquer contribuição humana. Segundo os calvinistas, a graça de Deus é irresistível e incondicional, sendo Deus quem predestina as pessoas para a salvação, sem que a escolha humana tenha qualquer impacto no processo.

Comentário de Teólogo Famoso

    O teólogo Jacobus Arminius, a quem se deve a tradição arminiana do sinergismo, argumentava que a salvação dependia da resposta voluntária do ser humano à graça de Deus. Ele escreveu:

    "A graça de Deus é necessária para que o homem possa ser salvo, mas a sua aceitação ou rejeição depende da liberdade que Deus deu ao ser humano. Deus não força ninguém a ser salvo; antes, Ele oferece a salvação livremente a todos."

    Por outro lado, o teólogo João Calvino, um dos maiores defensores do monergismo, rejeitava a ideia de sinergismo, acreditando que a salvação é inteiramente a obra de Deus. Para Calvino, a graça de Deus é irresistível e totalmente eficaz, e a vontade humana não pode resistir ao chamado divino para a salvação.

Calvino escreveu:

    "A salvação é obra pura e exclusivamente de Deus. O homem não pode contribuir com nada, nem mesmo com a aceitação da graça, porque a própria aceitação é um ato da graça divina que opera no coração humano."

Referências Bíblicas

    A Bíblia contém passagens que podem ser interpretadas tanto em favor do sinergismo quanto do monergismo, dependendo da tradição teológica. Abaixo, apresentamos algumas passagens que têm relevância para o debate:

  1. Filipenses 2:12-13 – "Portanto, meus amados, como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade."

    • Esta passagem é frequentemente usada para apoiar a ideia de sinergismo, pois sugere que a salvação envolve tanto a ação humana (desenvolver a salvação) quanto a ação divina (Deus opera em nós o querer e o realizar).
  2. Efésios 2:8-9 – "Pois pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie."

    • Esta passagem é muitas vezes citada para apoiar a ideia de que a salvação é, em última instância, uma dádiva de Deus e que a ação humana não pode "meritar" a salvação, como seria sugerido pelo sinergismo.
  3. Tito 3:5 – "Ele nos salvou, não por obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo."

    • Este versículo reforça a ideia de que a salvação é um ato da misericórdia divina, sendo obra do Espírito Santo e não uma recompensa por méritos humanos.
  4. João 6:44 – "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia."

    • Esta passagem é frequentemente usada pelos defensores do monergismo, pois enfatiza que ninguém pode vir a Jesus sem que o Pai o atraia, sugerindo que a ação divina é determinante para a salvação.
  5. Apocalipse 3:20 – "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo."

    • Esta passagem é usada para ilustrar a ideia de que a pessoa tem o poder de responder à graça de Deus, reforçando a visão sinergista de que a aceitação da salvação envolve uma ação voluntária do ser humano.

Conclusão

    O sinergismo oferece uma perspectiva na qual a salvação é vista como resultado da colaboração entre a graça divina e a ação humana. Embora essa visão seja prevalente em algumas tradições cristãs, como nas igrejas católica e ortodoxa, e na teologia arminiana, ela se contrapõe ao monergismo, que sustenta que a salvação é exclusivamente obra de Deus, sem qualquer contribuição humana.

    Essa questão é central para o entendimento de como a salvação ocorre e envolve debates profundos sobre a soberania de Deus, o livre arbítrio humano e a natureza da graça divina. As diferentes visões sobre sinergismo e monergismo refletem as diversas formas em que os cristãos entendem a relação entre Deus e a humanidade na obra da salvação.

Perguntas Frequentes

  1. O que é o sinergismo?

    • O sinergismo é a ideia de que a salvação resulta da cooperação entre a graça divina e a vontade humana. Ou seja, a pessoa deve aceitar a graça de Deus para ser salva, cooperando com a ação divina.
  2. Qual é a diferença entre sinergismo e monergismo?

    • O sinergismo ensina que a salvação envolve a cooperação entre a graça de Deus e a escolha humana, enquanto o monergismo afirma que a salvação é exclusivamente obra de Deus, sem a participação ativa do ser humano.
  3. O sinergismo é ensinado pela Igreja Católica?

    • Sim, a Igreja Católica ensina que a salvação é resultado da graça de Deus, mas também exige a colaboração do ser humano, especialmente por meio da fé e das boas obras.
  4. Quais tradições cristãs defendem o sinergismo?

    • O sinergismo é defendido por várias tradições cristãs, como a Igreja Católica, a Igreja Ortodoxa e as denominações arminianas dentro do protestantismo.
  5. O que a Bíblia diz sobre sinergismo?

    • A Bíblia contém passagens que podem ser interpretadas tanto de forma sinergista quanto monergista, com algumas enfatizando a ação divina como central (como em Efésios 2:8-9) e outras sugerindo a participação humana ativa (como em Filipenses 2:12-13).

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